20160103

Mudar ou não Mudar


Quem conhece o sistema de ensino português sabe que o mesmo tem sido alvo de experimentalismos, reformas, contra-reformas e outras mudanças que, não raras vezes, deixaram tudo pior ou tudo na mesma. Isto provoca, naturalmente, algumas desconfianças a professores e outros membros da Comunidade Educativa. Há por aí quem defenda a necessidade de estarmos alguns anos sem alterações legislativas para sabermos com o que contar.

Ora, tivesse Nuno Crato feito um excelente trabalho e faria todo o sentido mantê-lo intacto. O problema é que as alterações introduzidas por tal ministro deixaram o sistema de ensino pior. Não fazer nada, em nome da sacrossanta estabilidade, parece-me, no mínimo, irresponsável.

Nuno Crato criou uma reforma curricular que tornou o ensino mais pobre e apenas serviu para poupar dinheiro em salários de professores e para reforçar a ideia populista de que há disciplinas muito importantes e outras que não servem para nada. Deve a actual maioria, em nome da estabilidade, deixar tudo na mesma?

Nuno Crato alterou as regras dos concursos de professores, criou a BCE e manteve (ou criou) práticas duvidosas nos concursos por oferta de escola. Deve a actual maioria, em nome da estabilidade, deixar tudo na mesma?

Deve-se, em nome da estabilidade, manter metas como «Ler corretamente, por minuto, no mínimo 40 palavras de uma lista de palavras de um texto apresentadas quase aleatoriamente»? E como se faz isto na prática? Como é que um professor vê se as palavras são apresentadas "quase aleatoriamente" ou "muito longe do aleatoriamente"?

Já agora, deve-se, em nome da sacrossanta estabilidade do sistema de ensino, manter-se a instabilidade laboral de imensos professores contratados há 10, 15, 20 anos?

Sou contra o extremismo do "mudar por mudar", mas também sou contra o extremismo do "não se mudar nada", principalmente quando ainda estamos a sofrer com as medidas do XIX Governo. O que é preciso é que se faça uma avaliação justa do que deve manter-se e do que deve alterar-se e prosseguir com as reformas necessárias, sem medo de mudanças!

Os apoios fiscais às empresas favorecem as oligarquias sem fomentar o investimento

As oligarquias montaram em Portugal um sistema de fuga e mau aproveitamento do dinheiro dos impostos que se cifra em mais de 25% do PIB, a que se deve juntar o apoio aos bancos de 6.8% do PIB, nos últimos anos. Isto vai para além da economia paralela e das 1000 famílias mais ricas que pagam apenas 0.5% do IRS[1].

E não se pode dizer que daqui sai um reforço do investimento. Em 2010/14 a sua quebra supera a verificada durante a intervenção do FMI em 1983/85.

1 – Quem paga o crescimento da carga fiscal
2 - … e as desigualdades que daí resultam
3 - Os descontos feitos na área do IRC
4 – Subvenções e benefícios públicos